quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Moradores de São Sebastião se unem para enfrentar dificuldades

Em meio a tantas carências, a mobilização da sociedade é o melhor lado desta região administrativa do Distrito Federal.



O JN no Ar passou o Dia da Independência em São Sebastião, bem perto de Brasília, a capital do país. O Distrito Federal tem 2,5 milhões de habitantes. A maioria é gente que chegou de fora.
“Você conversa com pessoas do Nordeste, do Sul, do Norte, como eu”, conta um morador.
Não é um estado, nem um município. Abriga Brasília, a capital federal. Tem a maior expectativa de vida no país e também a melhor renda média nacional em uma economia baseada no setor da administração pública.
“Aqui, além de ser bom para trabalhar, é bom para sair, para se divertir, para todas as idades”, garante uma jovem.
O Distrito Federal tem a sexta maior taxa de homicídios do país e a menor de mortalidade infantil na Região Centro-Oeste. Ao lado do Amapá, é o lugar onde mais brasileiros sabem ler e escrever. São quase dois milhões de eleitores.
A equipe do JN no Ar trocou a chuvosa Roraima pela seca Brasília. O Planalto Central não recebe uma gota de chuva há mais de cem dias. A região administrativa de São Sebastião fica a menos de 20 quilômetros de Brasília. Tão perto do centro das decisões políticas e institucionais do país, São Sebastião está bem longe de ter aquelas garantias mínimas que só a presença do estado pode oferecer. Talvez exatamente por isso a população do local tenha resolvido arregaçar as mangas e resolver os problemas com as próprias mãos.
O pessoal de São Sebastião já se acostumou a organizar o próprio jogo, a própria vida. O campeonato de futebol, que envolve mais de 3 mil pessoas em duas ligas e três categorias, é iniciativa espontânea da comunidade, para o seu próprio bem.
“Damos oportunidades para tirar pessoas das drogas”, diz o treinador Ailton Gomes da Silva.
É da comunidade o maior esforço para curar o analfabetismo, que atinge 40% da população.
“Sentimos falta de algumas políticas públicas na nossa cidade, e a educação é um ponto crucial”, destaca Elias Araújo, da Casa de Paulo Freire.
Foi em casa que um garotinho de 8 anos conheceu a riqueza da música clássica.
É por esforço próprio que os atletas de São Sebastião carregam o peito de medalhas.
“A dificuldade é nossa maior motivação”, diz um atleta.
Com mais de cem mil habitantes, na periferia pobre de Brasília, São Sebastião é cidade dormitório para quem trabalha no Distrito Federal. À sombra da capital, não é município, mas região administrativa.
Por ser uma região administrativa de Brasília, São Sebastião depende diretamente do governo do Distrito Federal. E neste ano sofreu muito com as turbulências. De fevereiro para cá, quando o governador José Roberto Arruda renunciou, depois de uma onda de escândalos, o Distrito Federal já teve três outros governadores.
Isso ajuda a explicar por que São Sebastião tem uma moderna vila olímpica pronta e fechada desde fevereiro, à espera de inauguração, enquanto os atletas se exercitam na poeira, e por que uma Unidade de Pronto-Atendimento continua fechada enquanto o posto de saúde atual rejeita paciente após paciente, sem médico para atender.
“A gente chega aqui e fica no maior abandono. Estou passando mal, precisando de atendimento médico e não tenho. Para que trabalhamos e pagamos impostos se São Sebastião está esquecido desta forma?“, desabafou a dona de casa Araci Alves da Cunha.
“O Distrito Federal foi projetado para ter 500 mil habitantes no ano 2000 e hoje já estamos chegando perto dos 3 milhões”, conta Vilson Mesquita, do Conselho de Saúde de São Sebastião. “A rede de saúde do Distrito Federal não tem como atender à demanda local”.
Em meio a tantas carências, a mobilização da sociedade é o melhor lado de São Sebastião.
“A comunidade deve ocupar esse espaço, mas não tem como substituir o estado. A ocupação da comunidade vem para dar um complemento à ação do estado“, diz o educador Francisco Rodrigues.
Talvez a disposição para meter a mão na massa seja marca das raízes deste lugar. Quando fundador, Sebastião Azevedo Rodrigues, conhecido como Tião da Areia, chegou à região, há meio século, foi trabalhar no barro de São Sebastião, fonte dos tijolos que ergueram Brasília. Perguntado se faria tudo de novo, ele responde: “O difícil é a idade. Mas se eu voltasse à idade de 50 atrás, faria tudo de novo e com mais perfeição”.

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